Marcador de livro

Por Ivone Curi






Marcador de livro, de página, de Bíblia!
Artigo de papelaria, apetrecho de leitura,
item de coleção, objeto de desejo,
brinde de propaganda, souvenir de viagem...
Facilita a retomada da leitura, preserva e enfeita
os livros. Depositário de afetos e lembranças.
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Encanta-me este pequeno objeto! Incrível o que se pode inventar e com que! Papel, feltro, fitas, linhas, clipes, palitos, botões, arames... As opções são infinitas... O máximo de criatividade com o mínimo de habilidade no reduzido espaço de não mais que 18 x 5 cm.
Objetos mínimos! Minimimos! A história deles se confunde com a história dos próprios livros. A primeira notícia que temos deles é da era medieval. Mas é de se imaginar que na antiguidade tenha existido alguma forma de marcar as pausas das leituras dos longos papiros. Imagine o sufoco de não saber onde parou de ler um pergaminho de 40 metros.
Na idade média os marcadores eram feitos de couro, do mesmo material da capa do livro e consistiam de uma fita ao longo do livro. Nesse tempo os livros eram artigos de luxo. De acesso somente às pessoas da nobreza, do clero e das letras. Os marcadores deviam ser então raríssimos, tanto que chegou até nós, o registro que a Rainha Elizabeth, no longínquo ano de 1584, foi presenteada com um de seda com franjas (Que pérola! Deus salve a internet!).
Seguindo a história nos séculos XVIII E XIX o marcador que se tornou muito comum foi uma fita de seda estreita, com menos de um centímetro de largura, atada dentro do livro na parte superior da coluna que ia do início ao final da página. Este tipo de marcador é ainda encontrado em livros acadêmicos, religiosos e em edições de luxo.
Os primeiros marcadores que não eram presos aos livros só surgiram por volta de 1850. Na época vitoriana as meninas desandaram a bordar pedaços de fita para usar em suas bíblias e livros de oração. Na década de 1860, no Reino Unido começou a fabricar marcadores de tecido em máquinas. Um dos primeiros foi produzido por J. & J. para registrar a morte do príncipe consorte em 1861 ( Top das galáxias! Mil graças à internet!). Mas foi por volta de 1880 que os marcadores impressos em cartolina começaram a aparecer. E pela praticidade começaram a ser usados para publicidade.
Daí trabalhados com uma variedade enorme de materiais: ouro, prata, couro, cobre, latão, madrepérola, PVC, EVA, MDF, imã, papel (linho, cartolina, cartão...), tecido (feltro, seda, algodão...), linhas, fitas, pompons, crochê, fuxicos, marchetaria, bambu, palitos, clipes, botões, elásticos... Podem conter muitas informações e significados, além de suas funções primordiais de marcarem páginas e protegerem livros.
Não coleciono marcadores de livros. Tampouco os conto. Cuido com carinho dos que ganho ou compro como também dos que faço para mim ou para presentear.
Há os delicados, muito delicados que não marcam dor nenhuma. Só saem da caixa para as minhas mãos. E que são muito bons em despertarem afetos e lembranças. É bem verdade que a maioria dos marcadores tem vocação para marcar páginas e atração por livros. Mais fortes e resistentes são os de PVC, EVA, MDF, cartolina, metal, imã... Pulam de página em página e de repente que nem as borboletas pousam numa folha para marcar uma passagem importante. Aí pego outro e prossigo a leitura. E mais outro e outro até terminar o livro. Na maioria das vezes acabam esquecidos dentro do volume. E o reencontro só acontecerá na próxima releitura que pode demorar anos!
Outros preferem relacionarem entre si. Sim, os marcadores de livros quando investidos afetivamente vão muito além de sua função utilitária! Andam em pares, em trios, formam famílias. Como o do pingente que se apaixonou pelo livro da moça cega, como o dos óculos que foi atraído pelo Book Box e nunca mais desgrudou da cara dele. Como os do Freud e Nietszche que vivem de fuxicos com o do Chico Buarque. Como é o caso da menina vietnamita que foi adotada pelo casal de malaios.
Sem falar daqueles de vocação contemplativa que permanecem em pé, dentro de qualquer porta-treco, admirando o monte de livros espalhados pela mesa, pelas estantes a espera do convite para caminhar, voar, navegar, surfar em novas páginas. E por falar em surfar aconselho a quem gosta de histórias singelas a assistir Um Marcador de Livros: Much Better Now (htpps://muchbetternow.net). A animação conta a história de um marcador de livros que está preso em um livro e que de repente é aberto pelo vento. Então começa a surfar nas ondas feitas pelas páginas do livro. E o cúmulo da aventura é quando ele descobre um mundaréu de livros no recinto. Vou indicá-la especialmente para a amiga tão querida que me traz de suas viagens mundo afora belíssimos marcadores de livros. Foi dela que ganhei, entre outros, o casal de malaios e a menina vietnamita. Inclusive o dia que eu estiver bastante inspirada, ou seja, bem pirada, anoto um apólogo desta delicada família e lhe envio. Até lá desejo vida longa para eles, para ela, para nós!!!
Ah, quero aproveitar também a oportunidade para mencionar e indicar o Blog Pausas Literárias, aonde garimpei as pérolas sobre a história dos marcadores de livros (postado por Sheile Nayara em 25/10/14 - quando cita as fontes de seu texto) e aonde encontrarão outros posts deliciosos.

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